Estima-se que 1 em cada 1000 pessoas tenham pectus excatavum. Esta deformidade torácica é uma malformação das grade costal. Resumidamente, existe uma alteração no crescimento das costelas, o que condiciona uma depressão ao nível do esterno (o osso central que protege o coração) e, ao mesmo tempo, uma assimetria da caixa torácica, que acaba por afectar toda a postura. A maioria dos casos são evidentes nos primeiros anos de vida, mas só se tornam alvo de preocupação, na adolescência, altura em que o rápido crescimento torna a distorção mais evidente. É nesta altura que se procura o cirurgião pediátrico (ou torácico).
As situações ligeiras podem ser disfarçadas com um exercício físico centrado no reforço da musculatura torácica, como natação, por exemplo. Só casos muito graves dão problemas respiratórios e/ou cardíacos, pelo que a maioria dos casos não tem qualquer tipo de sintomas. Assim, na maioria das vezes, a operação é vista como sendo estética. Faz, por isso, todo o sentido a evolução que houve, nos últimos anos, de passar a cirurgia correctiva por via aberta (que consistia basicamente em abrir o tórax a meio e reconstruí-lo) para uma via toracoscópica (com cicatrizes mínimas). Na abordagem toracoscópica (também chamada minimamente invasiva) é colocada uma barra de moldagem atrás da grade costal com auxílio de uma câmara de vídeo, que, por sua vez, entra por um furinho de 5 mm na parede torácica. Essa barra vai forçar as costelas a ganharem a configuração correcta e ela é retirada 2 a 3 anos depois. Esta cirurgia foi um salto qualitativo muito importante no tratamento desta doença e devemo-la ao Dr Donald Nuss que, com muita justiça, dá o nome à técnica (operação de Nuss).
O Laboratório de Ciências Cirúrgicas da Universidade do Minho desenvolveu uma forma de criar as barras necessárias para a operação de Nuss e personalizá-las para cada doente. Apartir das imagens da TAC, que o cirurgião envia através da internet, uma máquina molda uma barra à medida daquele doente, individualmente. Antigamente (eu cheguei a ver) a barra era moldada manualmente, o que tomava tempo, ficava menos uniforme e obrigava a ter uma data de barras disponíveis, para ver qual se adaptava melhor. Com estas novas barras, à qual o grupo de investigadores se juntou uma forma de fixação mais user friendly, uma cirurgia que durava 1 – 1,5 horas é feita em cerca de 30 minutos. Este sistema inovador já valeu uma série de prémios à equipa de investigadores, destacando-se o START (Prémio Nacional de Empreendedorismo, promovido pelo BPI, Optimus e Universidade Nova de Lisboa) e o SpinUM ( Prémio de Empreendedorismo da Universidade do Minho) e deu origem à marca iSurgica3D que produz e comercializa este material 100% português.
Atenção, porque não quero ficar com méritos alheios. Apesar de pertencer ao mesmo laboratório (dentro da Escola de Ciências de Saúde da UM), não pertenço a este grupo de investigação específico. O meu pequeno contributo é como cirurgião pediátrico, na colocação destas barras. A cabeça por trás do projecto que, não por acaso, é meu orientador de doutoramento e meu director do serviço é o Professor Jorge Correia-Pinto. Podem ver e ouvi-lo no Next Big Idea (programa da SIC Notícias) a explicar este projecto como deve ser.