Uma leitora deixou o seguinte comentário no post sobre o pectus excavatum:
«O meu filho tem o contrário, “peito de pombo” o que avô também tem e não tem qualquer restrição. No meu filhote nota-se um pouco mais porque ele é magrinho (13kg com 4 anos). Faz natação. É normal com o crescimento acentuar-se ou pelo contrário?»
Efectivamente, o peito de pombo, também chamado de peito em quilha ou, tecnicamente, pectus carinatum é a segunda deformidade torácica mais comum. Tal como no pectus excavatum, ela pode aparecer nos primeiros anos, mas é mais frequente notar-se perto da adolescência quando o crescimento é máximo. O problema parece estar no desenvolvimento anómalo nas cartilagens que unem o esterno às costelas, mas, neste caso, o esterno fica levantado (para à frente) condicionando ou não uma assimetria de todo o tórax. Assim, tal como no pectus excavatum, pode-se moldar (re-orientar) a deformidade artificialmente.
Da mesma forma que no pectus excavatum colocamos uma barra a empurrar o esterno para fora, no pectus carinatum vamos colocar um dispositivo que force o esterno para dentro. Este dispositivo é como um colete de aço, desconfortável e mal tolerado pela maior parte das crianças. A maioria dos cirurgiões pediátricos aconselharão o seu uso apenas quando a criança (geralmente já adolescente) tiver uma real vontade de corrigir o defeito torácico e estiver disposta a passar pelo sacrifício.
Alguns hospitais têm dispositivos ‘universais’ que emprestam aos doentes, mas a maioria têm que ser adquiridos pelo próprio. A iSurgical3D faz coletes ‘à medida’, o que é especialmente útil, dada a grande variabilidade das assimetrias e os diferentes graus de gravidade. Com um scanning da superfíce do tórax, a iSurgical3D desenha um disposítivo adequado ao doente em causa, fazendo a pressão no local mais apropriado ao seu defeito. O dispositivo é caro (cerca de €500), mas a Segurança Social comparticipa, em caso de baixos rendimentos.
Parece haver ainda um desconhecimento geral sobre as opções terapêuticas destas duas deformidades torácicas (pectus excavatum, pectus carinatum), mesmo entre profissionais de saúde. É comum chegarem-me doentes cujos médicos assistentes lhes disseram que não havia solução, outros que vêem neste defeito uma inevitabilidade ou uma solução cirúrgica macabra pela qual não quereriam passar. Nada disto é verdade e espero que estes dois post tenham servido para esclarecer isso. Por favor, continuem a colocar-me as vossas dúvidas. Infelizmente, estas doenças têm um grande impacto na auto-estima dos adolescentes, pelo que podemos e devemos ajudá-los.