O MM já fez 2 meses e lá foi levar mais 2 ‘picas’. Não presenciei o acto, mas a necessidade de colocar um supositório para o rapaz dormir sem dores, recordou-me um mini-conflito que tive com a uma enfermeira do Centro de Saúde. Numa das vezes que levei o JM às vacinas, pedi um supositório de paracetamol, para prevenir a dor do pequeno. Entre choro e esperneanço, a Sra Enfermeira enchía-me os ouvidos com uma data de conselhos sobre como pegar no rapaz, como o colocar a arrotar, como o vestir, etc, Sabia que eu era cirurgião pediátrico? Sim. Ainda assim, tinha aquela autoridade moral que a idade traz e, como haveria de verificar, a ciência não confirma. Acenava pacientemente que sim, porque queria era ir-me embora dali. Mas, como dizia, pedia um supositório de Ben-U-Ron. Pergunta: «sabe colocar um supositório?» Eu: «(WTF?!) Qual a ciência?»
O que se seguiu é indigno para o rapaz, pelo que não entrarei em pormenores. Digo-vos apenas que a Sra. Enfermeira entendeu (e queria fazer escola) que a porção mais larga do supositório deveria entrar mais cedo que a parte fina. A parte larga, cortante, que os comuns dos mortais entendem como sendo o final do ‘foguete’ deveria ser a primeira parte a forçar o esfíncter anal da criança. Incrédulo e vencido pelo cansaço, nem discuti. Cheguei a casa e fui para a Internet. Encontrei a teoria da introdução invertida do supositório, inclusivamente, defendida por outros enfermeiros. Mas, porque raio as farmacêuticas continuavam fabricar os supositórios tal como os conhecemos? Parte fina e de ponta lisa para a frente que vai ficando mais larga, de forma abrir delicadamente o ânus, seguido de uma diminuição do diâmetro até até um corte súbito. Fui à literatura científica e desfiz o mito.
Conclusão: houve gente que acreditou que a porção fina virada para baixo ajudaria a que o supositório fosse mais facilmente ‘empurrado’ para cima pelo próprio esfíncter anal. Eventualmente faria sentido, quando era o próprio a colocar. De qualquer forma, essa hipótese nunca foi provada, pelo que deve imperar o bom senso. E, para mim, bom senso parece ser colocá-lo como o fabricante preconiza, isto é, como mostra a figura.
A história acabou por aqui, porque, apesar de me ter a acompanhado de uma cópia do artigo a cada visita ao Centro de Saúde, para esfregar na cara da Sra. Enfermeira e vingar o rabiosque do JM. A senhora deve ter-se reformado e nunca mais nos cruzámos. De qualquer forma, julgo que este episódio deu origem à vontade de ter um blogue deste estilo. Se mais nada de útil tirei daquela vista ao Centro de Saúde, pelo menos isto lhe devo.