Já começou o curso de cirurgia endoscópica em recém-nascidos de que vos falei há dias. A cirurgia minimamente invasiva em bebés tão pequenos exige muito treino em laboratório. É a isso que nos dedicamos no laboratório de ciências cirúrgicas da Universidade do Minho. Uma das cirurgias mais difíceis, mas onde os benefícios destas novas abordagens se sentem mais é na correcção da atrésia do esófago.
Uma em cada 3500-4500 crianças nasce com uma interrupção do esófago – tubo que liga a boca ao estômago. Logo, são crianças que não se podem alimentar. O diagnóstico pré-natal é muito difícil, pelo que geralmente esta anormalia é descoberta à nascença: ou porque a sonda de aspiração não passa até ao estômago durante o exame inicial, ou porque a criança se engasga na primeira vez que se tenta alimentar.
A única solução é cirúrgica e consiste em restabelecer a comunicação do esófago, suturando a porção proximal (a de cima) à porção distal (a de baixo). Na maioria dos casos existe ainda uma comunicação (fístula) entre o esófago proximal e a traqueia, que também tem que ser encerrada. A correcção da atrésia do esófago pode ser realizada por via aberta (toracotomia) ou por ‘furinhos’ (toracoscopia). Esta última tem-se mostrado vantajosa para o doente, em termos de estabilidade hemodinâmica, analgesia (menos dor) e recuperação pós-operatória (mais precoce). Para o cirurgião, a toracoscopia permite uma maior visualização das estruturas em causa, mas o pouco espaço que existe para trabalhar torna-a tecnicamente mais difícil. Existe aqui uma imagem (não aconselhada a impressionáveis) que dá a noção das proporções de que estamos a falar. Daí, a importância do treino em laboratório.