Um e-mail enviado por uma leitora a propósito da hiper-estimulação precoce na pré-escola fez-me recordar os tempos em que eu e a Mãe corremos Ceca e Meca à procura de um infantário para o JM. Alguns deles tinham programas pedagógicos de tal modo complexos que eu tinha medo que o pequeno não passasse da sala dos 6 meses para os maiores de 12 meses com ‘aproveitamento’.
Nem de propósito, o psicólogo Eduardo Sá esteve num colóquio organizado pela revista Pais&Filhos a falar sobre o tema. Eu não estive lá, mas tive o privilégio de o ouvir sobre o mesmo tema, num seminário que decorreu há uns 7 anos, no âmbito de um curso de formação contínua em Pediatria, no Hospital de Santo António. E aprendi bastante com o que ouvi. Cá em casa (como deduzo aí em casa também), queremos criar crianças felizes. Claro que isto não é tão simples como deixar fazer tudo o que elas querem, quando, como e onde elas querem. Além do mais, se queremos que as crianças felizes dêem adultos felizes, temos que as deixar bem preparadas para os desafios que terão durante a sua vida futura.
Como em tudo, é preciso bom senso e não cair em exageros. As crianças têm que ser crianças. Têm que comer, brincar e dormir, comer, brincar e dormir. E, comendo, brincando e dormindo, ir crescendo de forma saudável. Não adianta forçar aprendizagens para as quais elas não estão preparadas. Roubando umas frases ao Dr. Eduardo Sá, «o jardim de infância não é para aprender a ler nem a escrever»; «as crianças antes de aprender a ler, aprendem a interpretar»; «não é por tornarmos uma criança um macaquinho de imitação que ela vai ser mais inteligente».
O JM nasceu em Janeiro e foi ponto assente, desde o início, que não iríamos forçar a entrada na escola primária com 5 anos. «Com uma avaliação da psicóloga, isso consegue-se», disseram-nos numa das visitas. Mas, para nós, tanto faz que o miúdo acabe a primária (e depois o ensino secundário) um ano antes ou um ano depois. Mais, se for vontade dele, seguir para o ensino superior, que perca lá o tempo que for necessário. Nós queremos é que ele seja feliz. Qual é a pressa?
Ainda roubando umas ideias ao Dr. Eduardo Sá, «o jardim de infância deve ser um local para a criança receber educação musical (“a música torna-os mais fluentes na língua materna”) e educação visual (“quanto mais educação visual tiverem, menos dificuldades têm de ortografia”)». É isto que queremos para os nossos filhos antes de entrarem na escola primária. Que brinquem, que cantem, que saltem e corram, que joguem à bola, às escondidas. Além do mais, só dando-lhes liberdade é que eles vão explorando os seus diferentes interesses e nós lhes vamos conhecendo os gostos e as aptidões. Daí que, mesmo já na escola primária a ler e a escrever, queremos que brinquem, pulem, esfolem os joelhos, experimentem flauta, piano, viola, natação, ténis, surf, rugby. Que sejam crianças. É tão bom ser criança… Qual é a pressa?