Hoje trago mais um convidado especialista. O Dr. Rui Duarte é ortopedista. Partilha comigo a paixão e o ofício de investigador em ciências cirúrgicas e de docente de Fisiologia na Escola de Ciências da Saúde, da Universidade do Minho. Divide a prática clínica entre o Hospital de Braga (Público) e o Hospital Privado de Braga, tendo vindo a diferenciar-se na patologia da coluna. Quem melhor para escrever sobre os cuidados a ter com as mochilas dos pequenos e o seu impacto na saúde (presente e futura)? O texto está simples e directo e parece-me uma óptima ajuda para quem tem filhos em idade escolar (e não só).
Mochilas obesas
Rui Duarte
Com o decorrer do ano lectivo, surgem as queixas das crianças, e a preocupação dos pais, relacionadas com o desconforto e dor na coluna, que atribuem ao peso excessivo das mochilas que os filhos suportam diariamente.
Os estudos científicos publicados nas revistas médicas têm sido consistentes em demonstrar a associação entre o uso de mochilas pesadas e a dor na coluna vertebral durante a infância e a adolescência. Esta associação torna-se mais evidente em crianças sedentárias. Parece haver também uma relação directa entre a dor na infância e o desenvolvimento de patologia da coluna na idade adulta.
Do ponto de vista biomecânico, a criança adopta uma postura corporal inclinada para a frente de modo a suportar a carga da mochila. Esta atitude leva a uma alteração das curvaturas fisiológicas normais da coluna, isto é, um aumento da cifose dorsal e hiperlordose cervical (quando a criança levanta os olhos para ver o caminho). Estas alterações resultam em contracturas musculares crónicas da região cervical e cintura escapular. Paralelamente, esta alteração postural resulta também numa transmissão incorrecta da carga através da bacia e joelhos, levando a um aumento progressivo dos sintomas.
No sentido de minimizar estes problemas os pais podem tomar algumas medidas, relacionadas com a própria mochila e o seu conteúdo:
- adequada no tamanho – se for muito grande, será mais difícil a sua adaptação à região lombar, e a criança terá tendência para levar peso extra.
- adequada em design – devem ter alças largas, acolchoadas, ajustáveis nos ombros (nunca devem ser usadas num único ombro), um acolchoado na parte de trás e uma alça de apoio na cintura. As alças devem estar ajustadas de modo que a base da mochila, quando cheia, não ultrapasse 5cm abaixo da cintura. A existência de compartimentos no interior facilita a distribuição do peso e permite que os objectos mais pesados fiquem mais próximos da região lombar.
- adequada em peso – as recomendações internacionais apontam para um peso que não deve exceder os 10-15% do peso da criança. Recentemente num estudo realizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, com crianças do 2º ciclo, alertou para uma prevalência global de excesso de peso na mochila escolar em 68,4 % dos alunos. O papel dos pais é fundamental: no dia anterior à noite devem controlar o peso que as crianças transportam nas mochilas e a sua distribuição. Tentar evitar ao máximo objectos desnecessários.
Uma vez que o sedentarismo é apontado como a principal razão de dor lombar em crianças em idade escolar, outra recomendação importante será o estímulo da actividade física regular para uma melhor saúde da coluna vertebral e de todo o sistema músculo-esquelético.
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