1. Antes de mais, impõe-se uma explicação para tão longa ausência. Os últimos meses foram de grande agitação. Nada dramático, mas suficientemente confuso para me manter arredado da escrita, em particular do blogue. Surgiu uma oportunidade de voltar ao meu hospital de origem, o Hospital Geral de Santo Antonio, o agora denominado Centro Hospitalar do Porto, na cidade do mesmo nome. Os mais atentos poderão estar a par que o Centro Hospitalar do Porto inaugurou recentemente o Centro Materno-Infantil do Norte. É um projecto ambicioso, que pretende dar um tratamento integrado à Mãe e à Criança, com todas as valências que a Medicina pode oferecer à grávida e ao seu feto, e progressivamente ao bebé, à criança e até ao adolescente. É um projecto que tem tanto de ambicioso como aliciante, pelo que não podia deixar escapar este desafio!
Deixar o Hospital de Braga não foi uma decisão fácil. Foram três anos de muito trabalho, mas com uma equipa excelente e com a qual muito aprendi (e espero também ter ensinado alguma coisa). A Medicina, em particular a Cirurgia Pediátrica, não é só ciência e conhecimento. Muito é afecto, intuição e trabalho de equipa. E esta não se confina aos cirurgiões pediátricos, estende-se aos pediatras e médicos de outras especialidades, enfermeiros, auxiliares e adminitrativos. A forma como se coloca o interesse do doente em primeiro lugar naquele hospital não deixa nada a dever aos grandes centros hospitalares do Porto ou Lisboa. Eu diria que, antes pelo contrário, os centros mais pequenos conseguem, muitas vezes, proporcionar um serviço mais próximo. Mas não quero entrar em demagogias. Tudo depende do médico, do doente e sua patologia e das circunstâncias de cada um deles. Curiosamente, a proximidade das pessoas do Minho foi uma óptima surpresa e fez com que fosse muito bem recebido no hospital, quer pelos profissionais quer pelos familiares dos doentes que tratei. Nunca me tinha acontecido, mas considero que algumas crianças e seus pais se tornaram mesmo Amigos, daqueles que vou ter saudades e, espero um dia, reencontrar com os respectivos filhos e netos.
De qualquer forma, senti que o meu papel em Braga estava cumprido. Há três anos, fui com a vontade de acabar o meu Doutoramento (que o fiz em Abril de 2014), de progredir como cirurgião recém-especialista e como professor. Trabalhei muito estes últimos 3 anos (como nunca, mesmo) para atingir esses objectivos, quase sempre, em prejuízo da família. Por mais que tente, a família, que deveria ser o elo mais forte, acaba por ser o mais prejudicado, o elo mais fraco. Como nunca deixei de viver no Porto, poder agora trabalhar na mesma cidade, deixa-me mais perto de casa. Mais perto dos meus filhos e, de certa forma, mais perto dos filhos dos outros.
2. Como em qualquer fase de transição, houve burocracias para resolver, tarefas para passar, projectos para concluir e um sem número de pequenas coisas que me foram consumindo o pouco tempo que me sobra, para além do trabalho propriamente dito. É deste pequeno tempo que vive o blogue e, por isso, ele foi ficando nesta situação letárgica. À espera de melhores dias.
Parece-me que estes chegaram finalmente. Comecei a trabalhar novamente no (meu) Porto, no Centro Materno Infantil do Norte, em Novembro 2015. Um mês e pouco para aterrar e conseguir novamente sentar-me a escrever.