Na última edição da Acta Pediátrica Portuguesa vem um artigo algo alarmante escrito pelos colegas do Hospital de Santa Maria. Em questionários realizados no serviço de urgência e nas consultas de saúde infantil de dois centros de saúde, a maioria dos pais/cuidadores mostrou um conhecimento inadequado sobre ingestão de cáusticos. Segundo o mesmo estudo, «62,7% (dos inquiridos) tomariam atitudes inadequadas, como induzir o vómito», 35,8% «guardavam os tóxicos debaixo do lava-loiça» e 35,5% «não conheciam o Centro de Informação Antivenenos». Razão apontada para esta falta de conhecimento/cuidado, 74,1% referiam nunca ter recebido informação sobre este assunto. E se reduzíssemos este número de desinformados?
Primeiro, o que é um cáustico e porque é grave a sua ingestão? Um cáustico é uma substância química que, por contacto com a pele e mucosas (boca, esófago, estômago), causa lesões imediatas nesses tecidos. Os cáusticos estão presentes em muitos produtos de uso doméstico: lixívias, detergentes, diluentes, pesticidas, etc. A gravidade da lesão vai depender da concentração, do volume e tempo de contacto do cáustico com os tecidos. Assim, a lesão pode ir de uma simples inflamação local a necrose (morte) do tecido com perfuração do esófago, insuficiência respiratória e morte. A longo prazo, pode resultar em estenoses (“apertos”) do esófago ou do piloro (saída do estômago) com necessidade de cirurgia.
[fonte: evpersoneli.com]
Segundo, como prevenir a ingestão de cáusticos? «O grupo de maior risco são as crianças de idade inferior a 5 anos, com um pico de incidência por volta dos 2 anos, altura em que têm já autonomia para se deslocarem, mas não têm capacidade de reconhecer o perigo.» Sendo assim, é importante colocar os produtos que contêm cáusticos fora do alcance das crianças. Como?
- guardando os produtos tóxicos num local (de preferência alto), em que seja impossível a criança chegar (e de preferência fechado à chave ou outro dispositivo de segurança);
- devolvendo as embalagens ao local seguro assim que os produtos forem utilizados;
- evitando o manuseio de produtos tóxicos junto das crianças (basta um segundo para ir lá com a mãozinha);
- mantendo os produtos nas embalagens originais e nunca mudá-los para embalagens de abertura fácil;
- conheça os símbolos presentes nas embalagens.
Terceiro, o que fazer em caso de ingestão de cáustico ou outro produto tóxico? (Idealmente esta lição tem que estar na ponta da língua de todos os pais e cuidadores. Por isso, vou colocá-la por pontos:)
- Dê a beber água ou leite.
- Não provoque o vómito.
- Se tiver havido contacto com a pele ou com os olhos, lavar abundantemente com água durante 15 minutos.
- Telefonar para o Centro de Informação Antivenenos (808250143).
Note bem que os perigos e regras de que falo aqui aplicam-se também aos medicamentos, pelo que quase se poderia trocar produtos tóxicos por medicamentos e as recomendações seriam as mesmas. Já repararam que estas embalagens parecem guloseimas?
[fonte: evoke.ie]
Se ficou com vontade de saber mais sobre este tema, recomendo também: a leitura do artigo original «Ingestão de Cáusticos em Idade Pediátrica: Conhecimentos dos Cuidadores», uma visita à página do Centro de Informação Antivenenos e a consulta das recomendações do Ministério da Saúde para prevenção de intoxicações e outros acidentes na infância. Pode também ler outro texto que escrevi sobre prevenção de acidentes.