Continuando o tema do último texto. Com toda a evidência científica recolhida, a Dra. Dana Suskind sugere uma estratégia para melhorarmos a comunicação com os nossos filhosa. Esta estratégia tem sido testada pela 30 Million Words Foundation, que se dedica a acompanhar famílias carenciadas ou com dificuldades de linguagem a melhorar a comunicação com as crianças.
A estratégia baseia-se nos 3 T’s – Tune in, Talk more, Take turns, que se traduz mais ou menos para 3 C’s – Conecte-se, Converse mais, ‘Comporte’ turnos. Por passos:
Conecte-se. Significa ir ao encontro da criança e ao seu foco de atenção naquele momento. ‘Sintonizar’ com ela. Se está a brincar, com quê? O contacto visual ajuda muito à ‘sintonização’. Se estiver no chão, sentemo-nos de frente para a criança.
Converse mais. Quantidade e qualidade. Desde cedo, podemos narrar tudo o que estamos a fazer ao recém-nascido. «Agora, vou buscar a fralda. Está aqui ao lado. Vamos pôr creme? Que cheirinho…» Mais tarde, podemos narrar as ações da criança. «Estás a brincar com um carro? Ele é azul. Tem uma música bonita. Gostas de dançar ao som desta melodia. É muito alegre.» Quando a criança já fala, podemos complementar o seu discurso. Exemplo: a criança pede colo «upa upa». O pai pode perguntar «queres que o papa pegue em ti ao colo?» e ainda complementar «colo, porque estás cansada. Brincaste muito hoje. Deves estar feliz».
‘Comporte’ turnos. Acho que esta tradução forçada percebe-se mais ou menos. A conversa não é um monólogo, pelo que tem que devemos dar tempo à criança para responder. Se não fala, podemos esperar por um esgar, um sorriso. Se for maior, podemos esperar um conjunto de palavras mais elaborado. Na adolescência, até podemos ter uma resposta filosófica com a qual não concordamos. Mas saber ouvir é uma virtude, que também se aprende. As perguntas abertas (ao contrário das que se respondem com um simples sim ou não), favorecem respostas mais completas e explicativas. Logo, mais conversação.
Com estes 3 C’s em mente, podemos melhorar a forma comunicamos com os nossos filhos em cada interação com eles. Se pensarmos bem, falar mais e melhor com as nossas crianças é uma oportunidade para desenvolvermos relações mais saudáveis com eles e de colocarmos toda aquela neuroplasticidade em ação. Vejamos. Quando acrescentamos números e palavras como o mais e o menos às conversa, estamos a trabalhar a suas capacidades de cálculo matemático. Acrescentando grande/pequeno, perto/longe, trabalhamos a sua habilidade espacial. Elogiando processos e comportamentos, vamos ensinando o que é ser bem comportado. Oferecendo diferentes opções em vez de impormos uma ordem, ajudamos no desenvolvimento do pensamento lógico, na auto-regulação. Mas conversar mais também pode ser cantar, pintar e até brincar ao faz de conta. São formas de nos expressarmos que estimulam a criatividade (a nossa e a das crianças).
Ainda há um quarto T sugerido pela Dra. Dana Suskind, que é o Turn It Off. (Este não consegui traduzir para um C, mas aceito sugestões). As nossas vidas estão invadidas pelos telemóveis, pelos tablets, pela televisão, pelas consolas. É mesmo preciso desligar tudo de vez em quando, para podermos aproveitar o tempo em família sem interrupções. A tecnologia está sempre a ‘irromper’ (termo do JM) as nossas conversas. Quantas vezes respondo aos meus filhos sem tirar os olhos do computador? De facto, só desligando toda esta tecnologia é que conseguimos dedicar-nos a 100% à tarefa de estar, conversar, brincar com os nossos filhos. Por isso, desliguemos. E eu começo já por encerrar este post, que já foi longo.
[fonte: thirtymillionwords.org]
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