Há dias, também ouvi um outro podcast interessante. Foi no já conhecido TSF Pais & Filhos. O resumo de um debate sobre Segurança e saúde. Os convidados foram Sandra Nascimento, presidente da APSI (Associação para a Promoção da Segurança Infantil), Carlos Neto, professor e investigador da Faculdade de Motricidade Humana, Hugo Guinote, Diretor da Divisão de Policiamento de Proximidade, da Direção Nacional da PSP e Pedro Dias Ferreira, psicólogo da unidade de pediatria do Hospital de Santa Maria.
O debate foi muito interessante e tocou num tema ao qual sou muito sensível. A Medicina tem identificado cada vez mais riscos e causas para as mais variadas doenças e tipos de acidentes. Isto tem a consequência natural de tornar os pais preocupados e hiper-protectivos. Por outro lado, filhos hiper-protegidos torna-os mais vulneráveis a outro tipo de ameaças. Sabemos hoje que crianças menos expostas à sujidade do mundo exterior torna-as mais susceptíveis a asma e doenças alérgicas. Da mesma forma, crianças que brincam pouco ‘lá fora’ ganham menos destreza física, não aprendem a cair nem aprendem a medir o risco. Por isso, é que colocar os nossos filhos numa redoma pode ser tão ou mais prejudicial do que deixá-los ‘soltos por aí’. Este foi uma ideia com que praticamente todos os oradores concordaram.
Em tempos fui entrevistado sobre este tema, pelo Jornal de Notícias. Foi a propósito do livro “Deixe-os comer terra” de Marie-Claire Arrieta e Brett Finlay. O livro tem um título bastante explicativo, mas não é fácil para os pais (nem para os médicos) encontrarem o equilíbrio entre deixar os filhos aventurarem-se pelo meio do lixo e colocar-se em situações perigosas ou tê-los sempre sentadinhos e asseados em frente à televisão. Arriscar faz parte da vida e é uma aprendizagem que as crianças têm que ter. Pequenos riscos trazem pequenos sustos, que avisam a criança para evitar riscos maiores que lhe trariam amarguras maiores. Uma criança que não experimenta o risco pequeno, pode num dia que se apanhe em liberdade não saber medir e atirar-se para um risco muito maior, com consequências muito maiores.
Há muito que defendo a teoria do ‘risco controlado’. Ou seja, sempre com um olhar vigilante, ir deixandos os filhos experimentar uma aventuras mais arriscadas. Depois, vamos percebendo o que ela consegue ou não consegue fazer. Se aguenta ou não a queda que pode vir a seguir. No meio de alguns arranhões e muito choro, lá vão aprendendo a cair e a levantar, vão criando resistência e, com o incentivo certo, a tão necessária resiliência.
[MM a descer uma rampa a alta velocidade sem capacete; vídeo disponível no instagram]
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