Ainda faz sentido ter um blogue?

Tenho adiado a publicação deste texto e já o reformulei inúmeras vezes. É um texto algo longo, algo lamechas e que chega a passar pelo queixume. Mas, pior de tudo, reflecte sobre a minha relação com as redes sociais, que é um assunto sobre o qual ainda não tenho certezas. Se vos maçar, passem à frente, por favor.

 

Em Janeiro deste ano fui convidado pela Associação Portuguesa para a Promoção da Saúde Pública para falar num workshop sobre comunicação em saúde. Não sei se acrescentei muito ao painel constituído por pessoas que sabiam realmente do que estavam a falar. A minha apresentação centrou-se no papel dos blogues na comunicação de temas em saúde por médicos e, como não podia deixar de ser, incluí uma retrospectiva da minha vida paralela na blogosfera. Nesta retrospectiva, descobri que os diferentes blogues acompanharam diferentes fases da minha vida.

 

 

A minha estreia na blogosfera foi em Agosto de 2004. Foi na vésperas de uma viagem de 2 meses a Timor que fiz com a AMI (Assistência Médica Internacional). Era eu um aluno recém-licenciado em Medicina, à espera dos papéis finais da Universidade e da colocação no internato geral. Chamei-lhe ’Casa em construção’, porque eu integraria uma ajuda humanitária num País em (re)construção e eu próprio sabia que tinha muito para crescer. Esse blogue foi morrendo aos bocadinhos com o início da actividade clínica e com a necessidade de estudar intensamente para o exame de acesso à especialidade.

 

Já tinha iniciado o internato (em meados de 2006), quando comecei o meu segundo blogue ‘A Liberdade dos Outros’. O primeiro post reflectia logo duas coisas: 1) a vontade de escrever sobre política, principalmente da necessidade de maior liberdade e menos Estado e 2) necessidade de escrever sobre temas sensíveis de forma mais ou menos anónima, porque os pensamentos livres nem sempre são bem aceites por colegas de profissão mais velhos. Dizia assim, «a minha liberdade começa onde acaba a liberdade dos outros. Não por imposição minha, mas sim por imposição dos outros. Aqui não vou ser livre.» Este também foi morrendo lentamente, porque fui convidado para escrever em blogues colectivos:  primeiro no blogue da revista Atlântico e, posteriormente, no ‘31 da Armada’: dois blogues assumidamente políticos e assumidamente de direita. Tirando, este último, os blogues e os respectivos textos repousam no submundo da internet.

 

Foi já como especialista, em Novembro de 2012, que decidi começar o ‘E os filhos dos outros’, que insisto em manter vivo. Nasceu da vontade de continuar a escrever, mesmo que espremido entre as obrigações de pai e cirurgião pediátrico. Ele acabou por servir outros propósitos, como o de escrever memórias da história dos meus filhos que não quero perder, explicar algumas das doenças que trato no meu dia a dia e partilhar algumas ideias que vou tendo sobre educar crianças mais felizes e saudáveis. Com mais ou menos assitência, vou mantendo o blogue vivo. Para mais, ele tornou-se a minha casa, o meu sítio da Internet, o local onde me encontrarão sempre e de onde faço as ligações para os outras website e redes sociais onde também estou.

 

Já se ouviu muitas vezes anúncios da morte dos blogues mas, a cada passo, eles ganham nova vida, reinventam-se e ganham novos propósitos. Quem imaginava há um bom par de anos que haveriam escritores que viveriam única e exclusivamente do seu blogue? Quem imaginaria que actores e apresentadores de televisão entrassem neste mundo para promoverem marcas e eventos? Com a entrada em cena do facebook, do instagram e das suas stories, do twitter, do pinterest, os blogues foram mudando de estilo. No meu caso, deixou de fazer sentido frases ou imagens simples só para dar sinal de vida. Considero também mais funcional partilhar um artigo ou uma imagem sobre as quais não tenho nada a acrescentar nas redes sociais em vez de usar o blogue para isso.

 

Mas as redes sociais, em particular o facebook, têm um lado perverso para os blogues. Elas usam algoritmos esquisitos que decidem por nós o que vemos ou deixamos de ver, dando uma prioridade determinada em parte por quem paga mais. Eu não estou para isso. Mas, do que consigo perceber dos gráficos aqui do ‘backoffice’, 50% dos leitores chegam a esta casa através do facebook, pelo que está fora de questão abandonar. Somando tudo, acho que continua a fazer sentido ter este blogue, esta plataforma onde posso colocar textos longos como este e que serve de repositório do que vou escrevendo ao longo dos anos. Se gostam de me er, vão passando por cá. Serão sempre bem-vindos.

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Uma das alternativas às redes sociais, é manter-vos actualizados atravês da newsletter d’E os filhos dos outros. Nela inclui notícias exclusivas e sugestões de outras leituras interessantes. Subscreva!

 

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