O MM apareceu-nos com molusco contagioso. Anda na piscina, que é o local mais habitual onde as crianças contraem esta doença. Ao longo de 1-2 semanas foram aparecendo as pápulas características: umas bolhinhas muito pequenas, rosadas e com um centro líquido transparente. Primeiro no dorso, depois nas pernas e nos bracinhos, porque a comichão e o acto de coçar levam a que se espalhe o bichinho. Como cirurgião pediátrico, é frequente pedirem-me para curetar (raspar) estas lesões, pois é a forma rápida de resolver o problema. E, apesar de alguns artigos defenderem que é desnecessário, eu fí-lo ao meu próprio filho. Mas antes de entrar em pormenores, achei que vos devia elucidar sobre algumas verdades pouco conhecidas em relação ao molusco contagioso.
1. O molusco contagioso não é um molusco. É um vírus. O primeiro a notar esta incoerência foi o JM. O nosso filho mais velho já deu a classe dos invertebrados e reagiu logo ao diagnóstico. «O quê? O Manel tem um polvo a crescer-lhe nas pernas?» De facto, o molusco contagioso é causado por um poxvírus também chamado de vírus do molusco contagioso (VMC).

2. O molusco não é assim tão contagioso. O vírus do molusco é transmitido através contacto directo com as lesões ou através do contacto com toalhas de banho partilhadas. A criança com molusco contagioso não precisa de faltar à escola, mas deve proteger as lesões do contacto com os colegas. Crianças com diminuição das defesas imunitárias ou com dermatite atópica parecem ter mais propensão a adquirir molusco contagioso.
3. A criança com molusco pode a frequentar a piscina. O molusco não é transmitido através da água. Logo, tapando-se as lesões com penso ou mesmo com o fato de banho, evita-se o contacto directo das outras crianças com as lesões da pele. A logística não é fácil, especialmente porque nalgumas zonas os pensos saem facilmente. No entanto, é possível. Mas, mais do que nunca, não partilhar toalhas com outras crianças e talvez substituir o balneário pelo banho já em casa.
4. O molusco contagioso não precisa ser tratado. Apesar de haver vários tratamentos disponíveis, têm aparecido muitos estudos a dizer que mais vale deixar o molusco em paz. De facto, a doença resolve sozinha num período entre os 6 e os 18 meses. Os cremes causam inflamação local e desconforto sem acelerarem a resolução do problema. E, as raspagem apesar de eficaz, é dolorosa.

5. As complicações do molusco são raras. Como as crianças coçam e nem sempre (ou quase nunca ;)) têm as mãos limpas, as lesões podem infectar ou deixar marcas. Nalguns casos, a criança pode levar a infecção aos olhos e originar conjuntivites.
6. Pais informados tomam melhores decisões. Perante as verdades acima, cabe ao médico discutir com os pais a melhor estratégia para abordar o molusco da criança. Em Medicina, usamos muito o chavão «cada caso é um caso». E, nos casos de molusco contagioso, os pais devem ponderar entre não fazer nada, aplicar um creme tópico ou fazer a curetagem das lesões.
Voltando ao caso MM, o rapaz foi admoestado à saída da piscina. Que não voltasse enquanto tivesse molusco. O pai-cirurgião poderia ter contestado e aparecer com ele embrulhado em pensos impermeáveis. Mas a verdade é que o rapaz tinha comichão. Logo, fomos pela solução mais rápida. No dia seguinte, cheguei a casa munido da cureta e do anestésico local em creme. O MM com 6 anos, deixou raspar as lesões todas sem um ‘ái’. Três dias depois, retirados o penso,, estava tudo cicatrizado.
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cá por casa apanharam os dois. Diz que foi na piscina. Ficaram impedidos de voltar enquanto tivessem as «borbulhas». A comichão era terrível e não paravam de nascer «borbulhas» no peito, nos braços, na cara. Um foi curetado num hospital. A criança berrou que se fartou. O outro, que ouviu o alarido, não se deixou curetar no hospital. Foi a mãe em casa com lidocaína em pomada e uma pinça. Não recomendo. Ambos ficaram cheios de marcas no corpo que nunca desapareceram. Não desejo que voltem a apanhar!
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O meu filho também teve molusco contagioso. Na altura, fui aconselhada pelos médicos (e pressionada pelo infantário) a fazer a raspagem, … mas foi muito doloroso para ele (talvez por serem muitas bolhinhas espalhadas por todo o tronco, braços e pernas?). Demasiado doloroso. Como resultado, o meu filho, que antes era muito colaborativo com os médicos e raramente se queixava com dores, tornou-se mais receoso com consultas e ainda hoje, passados cinco ou seis anos, se lembra da raspagem como se tivesse sido submetido a uma tortura (eu tive de sair da sala e ouvia os gritos dele do corredor, a alguns metros de distância … e os médicos hesitaram em continuar o processo). Sabendo o que sei hoje, se fosse agora punha uns pensos e deixava que o “bicho” passasse
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